Você SA abril/2018 – Falta talento (e sobram oportunidades) por todos os lados
Nesse último mês de março, participei como palestrante no fórum Brasil Espanha organizado pelos alunos de MBA da Espanha e conduzido na ESADE, escola de negócios em Barcelona. Uma iniciativa importante para discutir o Brasil do futuro com temas sobre economia, política, diversidade, mídias sociais, arquitetura urbana, empreendedorismo, dentre outros. Meu painel se destinou a discutir a importância do capital humano e dos talentos para o país.
Creio ser importante contextualizar meus conceitos sobre talentos. Minha experiência, meus acertos e erros, me ensinaram a importância de duas dimensões do talento para as empresas e para o país. Existe o talento no nível do indivíduo. Quando personificamos num perfil o cara que faz a diferença em uma organização. Geralmente, aquele cara que tem ótima formação, fala uma ou duas línguas e que é buscado para liderar uma empresa atualmente ou no futuro. O cara que será responsável por definir uma estratégia ou influencia-la e terá a incumbência de liderar uma equipe e fazer acontecer.
Existe o talento como nível de habilidade desenvolvida e desempenhada por um conjunto de pessoas. Por exemplo, numa empresa de serviços em que a estratégia é encantar o cliente em cada experiência, a empresa precisa de um conjunto de pessoas com habilidades bem desenvolvidas de hospitalidade e de atenção ao cliente em todos os momentos para o cliente sair encantado. Numa empresa de exames de diagnóstico médico, se não houver operadores de exames de imagem capacitados, para operarem equipamentos sofisticados e de alto investimento, a empresa sofrerá para exercer sua atividade principal.
O nível de talento no indivíduo está mais na agenda dos CEOs e dos RHs. Parece ser mais importante e é bem mais charmoso a gestão desses talentos na intenção de posicionar bem a empresa na atratividade nas arenas em que muitas competem entre si por esse perfil.
Porém, em minhas conversas com conselheiros e acionistas nesses últimos meses, tenho percebido a crescente preocupação destes com a falta do contingente de pessoas com talentos importantes para executar a estratégia e empresa. Ou seja, a falta de um conjunto de pessoas desempenhando determinas habilidades. É uma empresa que está capitalizada e precisa dobrar seu número de unidades de atendimento no campo dos serviços de embelezamento e que sabe que não conseguirá abrir o dobro de unidades se não se preparar adequadamente para suprir essa necessidade de Capital Humano em seu planejamento. Uma outra empresa industrial que recebeu um alto aporte financeiro para dobrar sua capacidade e sabe que precisa de um planejamento e gestão adequada do capital humano para não comprometer seu crescimento. Em nosso país, temos tido oportunidades de desenvolver mais o ecossistema de inovação no país, com mais start ups, temos capital financeiro entrando, temos já ótimas incubadoras e aceleradores, dois unicórnios, mas faltam programadores.
Esse é o impacto que chamo da “cadeira vazia”. Quando a falta de alguém capacitado para ocupar uma posição faz com que a empresa deixe de prestar um serviço ao cliente, deixe de gerar receita com a venda de produtos e serviços. Pior ainda, é a cadeira mal ocupada. Situação quando a cadeira é ocupada por um profissional sem as habilidades esperadas e que irá prestar um desserviço ao cliente.
Esse nível de desafio requer da área de gestão de pessoas das empresas uma visão de negócios. Uma visão de planejamento de demanda e de capacidade que permite com que a empresa tenha um processo quase que just in time de abastecimento e distribuição da matéria-prima de pessoas que irá zerar o indicador de cadeira vazia e permitir com que implementem seus planos de crescimento e de execução de suas estratégias com excelência. A esse processo que desenvolvi em algumas empresas, dei o nome de “Supply Gente™”.